PCB – Começa por
falar um pouco de ti, uma espécie de autobiografia da tua vida até agora.
Olá leitores do PCB, tudo bem? Bem, a verdade não sei muito
bem o que dizer aqui! Tenho 23 anos, sou estudante de Engenharia Biomédica no
IST (quase quase formado!). Além de jogar, gosto bastante de ler, de viajar, e
de cinema, já passei por bastantes hobbies desde diferentes desportos, faço
(vou fazendo) voluntariado, e mais recentemente abri uma loja de TCGs :P
PCB – Como entraste no circuito competitivo do Pokémon TCG?
Já entrei há bastante tempo, em 2005, estava no 8º ano...
Pensando bem, passei quase metade da minha vida a jogar Pokémon
competitivamente! Na altura comecei a jogar na minha escola com o Bernardo
Mocho, meu colega de equipa ainda atualmente, e o irmão, Eduardo. Descobri, não
me lembro bem como, que existiam torneios na Devir Arena. Ia haver uma
pre-release, de Unseen Forces (grande set, por acaso!) e eu e o Eduardo fomos
ao torneio naquela de obter as cartas novas e conhecer pessoal novo. Acabámos por
fazer 1º e 2º, e percebemos que afinal eramos bons naquilo, além do facto de as
pessoas serem extremamente simpáticas e do ambiente ser super porreiro! Voltámos
para a liga no fim de semana seguinte, fomos ficando, e pronto...
PCB – Qual o momento que consideras como o mais relevante na tua carreira?
A nível de resultados, não um momento, mas 2009 foi
claramente o meu ano de ouro e no qual sinto que cresci mais como jogador:
ganhei o Nacional depois de muita preparação e um torneio super intenso com discutivelmente
a minha carta preferida de sempre: Dialga G. Foi uma sensação excelente depois
do 2º lugar de 2008 (em que nem cheguei a jogar contra o campeão; eram
Nacionais só Swiss). Dois meses depois faço um score de 6-1 no meu primeiro Mundial
após ganhar ao campeão em título na altura Jason K. na 2ª ronda, perdendo a
primeira ronda pelo que considero nervosismo. Perdi no top 32 para quem se
viria a tornar campeão esse ano num dos matches mais intensos da minha carreira,
que acabou com o nosso table judge a dizer-me “Well played”. Dei o meu melhor,
não ganhei, mas soube quase a isso.
Menção honrosa para a passagem do LCQ em 2010, indo x-1
também, onde em mais de 120 jogadores entravam 8 no mundial. Fui 3º!
PCB – E a situação
que te deixou mais frustrado?
Bem, nesse ano, apesar do resultado, deixou-me um sabor a
azedo ficar a uma ronda de um prémio monetário, considerando quão bem joguei
esse torneio. Mas a maior frustração deve ter sido quando fui jogar ao Nacional
Austríaco. Sabia que tinha todas as hipóteses de ganhar o torneio, mas um
conjunto de maus matchups, má gestão de tempo (foi o ano em que os empates
foram implementados no jogo, e só tinha jogado em mais um torneio esse ano,
logo não estava preparado para eles), e o que considero más decisões por parte
dos judges impediram-me sequer de entrar no top. Nem foi um dos casos em que
posso dizer que joguei mal ou fui mal preparado. Foi um torneio em que a vida
me disse “esta vitória não é para ti”, e tive de engolir o sapo.
PCB – Conta-nos uma
história engraçada que possas partilhar connosco.
Talvez uma história in-game: há várias, mas uma das que mais
me marcou foi no Last Chance Qualifier de 2010. O LCQ era um torneio que já não
existe, realizado na 6ª feira véspera ao Mundial, cujo objetivo era dar uns
últimos lugares de entrada no mundial para quem não estava qualificado.
Acontece que em 2010 eu não tinha o convite, logo fui, com bastantes outros
lusitanos, jogar nesse torneio. Levei Luxchomp, deck dominante na altura, e na
primeira ronda apanhei um mirror. Dominei facilmente o jogo, tendo 1 prémio
para cinco do meu adversário. Confiante, deixei-o jogar contando levar o jogo
no turno seguinte... Até que ele baixa um Entei Raikou Legend, usa o Bronzong G
para mexer uma energia para ele, e eu olho para o meu campo: tenho cinco
Pokémons com Poké-Powers com 80 de vida (para quem não jogava, o ERL descartava
duas energias para dar 80 a todos os Pokémon com Poké-Powers em campo). Tremi,
pensando no misplay que tinha feito: podia ter retirado um dos meus Pokémon do
campo com Pokéturn, mas nenhum português jogava ERL no Luxchomp dele e
esqueci-me que a carta existia... Não vou perder, mas ele vai levar o jogo a
morte súbita e o meu controlo vai por água abaixo...
Ele baixa um Uxie, dá setup, compra cartas, eu tremo, gasta
cartas e dá outro Uxie, e ele pára. Depois de cerca de meio minuto sem fazer
nada, pergunto-lhe “falhaste a energia, não foi?”. E ele diz-me que sim. O meu
coração voltou a bater normalmente, e consegui ganhar o jogo no turno a seguir.
Ufa!
Há muitas outras histórias, especialmente fora de jogos, que
têm de ficar em segredo... só vividas!
PCB – Quem consideras que seja uma inspiração para ti dentro da comunidade e
porquê?
O Gonçalo Ferreira é uma pessoa no qual penso bastante quando faço decks e me preparo, pois penso na forma dele de abordar o jogo: quando percebe que um deck é bom, dedica-se imenso a ele e prepara-se mentalmente para a board de decks existentes. É algo que sinto que se foi de certa forma perdendo com o acesso muito fácil à informação e listas na internet, infelizmente... Acho muito bom haver alguém que ainda o faça, pois ainda acho que é a melhor forma de obter bons resultados. Pensar no sucesso dele ajuda-me a manter os pés assentes na terra, quando me frustro e tento experimentar vários decks a ver se acerto num, ao invés de focar-me em aprender bem um deck. Às vezes perdemo-nos no mar de decks existentes por aí e não aprendemos a jogar bem com um, que é o que faz mais sentido.
O Gonçalo Ferreira é uma pessoa no qual penso bastante quando faço decks e me preparo, pois penso na forma dele de abordar o jogo: quando percebe que um deck é bom, dedica-se imenso a ele e prepara-se mentalmente para a board de decks existentes. É algo que sinto que se foi de certa forma perdendo com o acesso muito fácil à informação e listas na internet, infelizmente... Acho muito bom haver alguém que ainda o faça, pois ainda acho que é a melhor forma de obter bons resultados. Pensar no sucesso dele ajuda-me a manter os pés assentes na terra, quando me frustro e tento experimentar vários decks a ver se acerto num, ao invés de focar-me em aprender bem um deck. Às vezes perdemo-nos no mar de decks existentes por aí e não aprendemos a jogar bem com um, que é o que faz mais sentido.
O Igor é sempre uma inspiração devido aos resultados que
atingiu, ao facto de quando tenho dúvidas se um “Português aleatório como eu
consegue fazer um resultado excelente este ano”, lembro-me dele e que é óbvio
que é possível. Ele, e também o Paulo Silva e o Gonçalo Pereira, são as provas
de que podemos fazer tudo, ajudam-me a ultrapassar estas inseguranças.
O Bernardo Dias também é uma inspiração, devido ao seu
sempre bom humor e ideias diferentes, que alia a uma grande capacidade de jogo.
É de longe dos jogadores que mais vi crescer durante o meu tempo no jogo.
Conheci-o como tenro sénior, por isso o crescimento foi também literal (tinha
cerca de metro e trinta de altura ao invés dos quase dois que tem agora! O
tempo passa.). O Bernardo está sempre disponível para ajudar novos jogadores e
é sempre alguém com quem gosto de estar, sendo a essência viva do espírito de
entreajuda e comunidade.
Para além disso, todos os jogadores que continuam no jogo
porque o adoram, apesar de irmos tendo menos torneios com o passar do tempo,
também me trazem um grande sorriso aos lábios!
PCB – Qual é o aspeto
que se deve ter mais em conta para se ser um bom jogador?
Acho que primeiro é conheceres a tua lista de trás para a
frente. A razão de cada carta estar lá, com o número de cópias que tens, e
quando usar cada uma e contra o quê.
Depois aplicar isso: ter planos definidos com o teu deck
contra os diferentes decks dos formatos. No entanto, considero que esta skill
foi sendo substituída pela capacidade de optimizar as tuas jogadas de acordo
com a posição de campo e recursos usados, tanto por ti como pelo teu oponente.
Antigamente os jogos eram mais lentos e não havia desperdício de recursos (como
Ultra Ball e Sycamores hoje em dia, por exemplo), e à partida ias usar os teus
recursos todos. Ainda assim, acho que a importância desta capacidade se mantém.
Finalmente, e isto é o que define um bom jogador de um
excelente: ver todas as mais pequenas opções de vitória. Se isso implica um
last ditch paralyze flip, um lysandre stall, ou N’s quando ele tem pouquíssimas
cartas no deck, seja. Se te dá uma probabilidade de ganhar, fá-lo.
PCB – Que deck tens gostado mais de jogar em Standard e porquê?
Ora, honestamente, não te consigo responder a esta
pergunta... Todos os meus CP’s foram obtidos com decks diferentes, e gostei de
jogar com todos eles (exceto Toad Tina, porque o deck é bastante forte, mas
podes jogar perfeitamente e perder porque falhas moedas. O deck depende muito
das SSU... Mas isto é um à parte).
Vou no entanto arriscar e dizer que o que mais gostei foi
Fairytina, porque tinha muitas opções, e foi em grande parte um homebrew dá um
prazer especial. Além disso, a Aromatisse é uma carta genial. Em 2º lugar,
talvez o Manectric Bats, porque era versátil, fortíssimo, e deu-me alguns dos
jogos mais intensos.
PCB – Foste o jogador
português com mais CP conquistado esta temporada. Que balanço fazes da tua
prestação nesta época?
Bem, na verdade, acho que tenho que dizer que foi uma
excelente prestação até agora, melhor que a que eu esperava para mim próprio...
No início da season propus ao Bernardo Mocho que iríamos
obter o convite e deixar o jogo até ao Mundial, pois tínhamos os dois imenso
trabalho para fazer este ano. Eu obtive o convite antes dele, por isso fui
participando nos torneios na mesma de forma a não só testar com ele mas ajudar
em pairings, etc. Aconteceu que os pontos foram acumulando, pronto. Houve um
número de fatores que permitiu que, ao contrário do esperado, me pudesse
dedicar bem ao jogo, como abrir uma loja de cartas, e a pressão para ajudar o
Bernardo a fazer os pontos que faltavam. O testing constante ao longo do ano
trouxe frutos, por isso treinem, compensa! Sei que foi isso que me permitiu ir
tão bem preparado para os torneios que joguei durante o ano.
PCB – Além de ti,
quem consideras que mais cresceu nesta temporada?
Tu, o Telmo, e o João Joaquim, não digo o Óscar porque ele
já tinha resultados bons. Vocês os três foram quem mais subiu de resultados
“porreiros” para tops consistentes ou muito perto disso. A ti não te conheço
tão bem, mas os outros dois sinto que ganharam uma visão de jogo que não tinham
em anos anteriores, e notou-se a diferença. Parabéns aos três J
PCB – O que achas que
serão as melhores jogadas para o Nacional?
Ó rapaz, bato a cabeça todos os dias a tentar responder a
isto... Infelizmente, não te sei mesmo dizer. Vou só dizer que March é sempre
sólido, e suponho que haja muitos, assim como Greninja e provavelmente Turbo
Toads, depois da performance sólida na Alemanha.
PCB – Se tivesses de
prever, quem crês que ficará no Top 8 este ano?
Vou desde já dizer que não irei prever um top, mas quero
apenas mencionar quem sinto que tem boas hipóteses de lá estar. Há bastantes
jogadores que sei que poderão fazer parte, desde as caras conhecidas como os
Gonçalos (Ferreira e Pereira), que mesmo que não entrem todos os anos têm uma
excelente consistência, o Paulo Silva, o David Ferreira, campeão em título e
sempre grande jogador, o Bernardo Dias, que joga sempre de forma sólida durante
o ano mas liga o nitro durante o Nacional, o Bernardo Mocho, se conseguir
marcar presença, o Pedro Barbosa, que regressou o ano passado em completa força
e ainda não parou (tenho um grande respeito por este jogador), o Óscar Batalha,
que tem feito grandes resultados nos últimos tempos e tem tudo para levar isso
para o Nacional; entre outros.
Menções honrosas para ti, que acho que tens todas as
possibilidades de fazer um bom resultado; logo se vê o que o dia te trará.
Também para o Telmo e para o João Joaquim, pelas razões mencionadas acima.
Espero também, muito sinceramente, ficar no top e subi-lo,
porque uma vitória no Nacional mete-me em grande posição de ficar no Top 22 da
Europa, que me dará viagem e estadia para o Mundial pagos pela TCPi.
Infelizmente, devido ao número reduzidíssimo de torneios ao longo da season,
sou o único com sorte suficiente para estar nesta posição. Com isto não quero
dizer que ache que sou melhor que os jogadores que mencionei acima, de todo:
tenho é uma motivação diferente, a hipótese da (muito relevante) ajuda
financeira, especialmente para quem tem de atravessar um oceano e um continente
inteiros.
Tenho a certeza que irão haver surpresas no dia, e logo se
verão quais (quem) são.
PCB – Quais são as
tuas expetativas para o Mundial?
Quero mesmo trazer um resultado grande do Mundial este ano.
Estou-me a dedicar bastante ao jogo, e sei que com trabalho suficiente consigo
trazer para casa um top no dia 2, ou muito perto. Quer dizer, acredito que sim,
e se eu não acreditar em mim, quem acredita?!
Acima de tudo, tenho a expectativa de me divertir imenso! O
Mundial é sempre uma experiência fantástica, e não vou a um desde 2013. Tenho
saudades de amigos que conheci lá fora e que quero rever, assim como tenho
saudades de todos os momentos de diversão que passamos entre tugas!
PCB – Deixa uma
mensagem para os leitores do Poké Center Blog.
Não sei se há bastantes leitores do blog que estejam a
pensar pegar no TCG, mas gostaria de propor que, para quem ainda não deu uma
oportunidade ao jogo, que desse! É extremamente divertido, fiz grandes amizades
e criei muitas memórias, como viagens, ao longo dos anos graças a ele. Posso
afirmar veemente que a minha vida não seria a mesma se não jogasse.
Para quem já joga, continuem a acreditar e a manter vivo
este jogo e comunidades tão brutais!
Até à próxima, espero que pelo menos até ao Nacional!
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